Quatro Boas Práticas URBACT que promovem a economia circular nas cidades da Europa

Edited on 14/07/2025

Descubra como quatro cidades estão a implementar práticas de economia circular para apoiar a transição verde.

Com os impactos da crise climática cada vez mais visíveis e com as cidades responsáveis pelo consumo de 70-75% do total de recursos naturais e por 75% das emissões globais de gases com efeito de estufa, a necessidade de mudança é urgente. A economia circular oferece um caminho a seguir, que reduz a produção de resíduos, mantém os materiais em circulação e apoia a regeneração dos sistemas naturais.

Considerando este facto, a Semana Verde da UE de 2025 (3 a 5 de junho) centrou-se em colocar a circularidade no centro da transição económica da Europa. Esta prioridade reflete as ambições mais amplas da UE no âmbito do Plano de Ação para a Economia Circular - uma componente central do Pacto Ecológico Europeu - que procura reduzir a pressão sobre os recursos naturais, prolongar o ciclo de vida dos produtos e promover o crescimento económico sustentável. Ao afastar-se de um modelo linear de “extrair-produzir-descartar”, a economia circular contribui para os objetivos climáticos, para o aumento da competitividade e promove a inovação em todos os sectores. Neste contexto, o URBACT está a contribuir ativamente para a transição, ajudando os municípios a transformar a ambição em ação, tornando as cidades mais resilientes, eficientes em termos de recursos e inclusivas. Através da aprendizagem entre pares e da troca de conhecimentos, o URBACT apoia as cidades na conceção, implementação e transferência de soluções circulares eficazes.

Este artigo apresenta quatro Boas Práticas URBACT de referência, parte das 116 premiadas em 2024 pelo URBACT, que estão a dar passos significativos em direção a um futuro circular: C-City em Génova (IT), Halle 2 em Munique (DE), Greening Logistics em Lucca (IT) e Viana Abraça em Viana do Castelo (PT).

 

Transformar as cadeias de abastecimento para um futuro urbano circular

 

#1 - Génova (IT)

 

O projeto C-City foi desenvolvido como uma estratégia para transformar as principais cadeias de abastecimento da cidade, redesenhando modelos de negócio baseados em princípios circulares. Centrando-se no equipamento elétrico e eletrónico, nos têxteis e no mobiliário, alguns exemplos principais desta abordagem são o Centro Distrital de Reutilização, o Centro Circular e o Balcão Circular.

Lançado no âmbito do Plano de Ação Génova 2050, o projeto não só reforçou o papel de Génova no domínio da inovação nos setores verde e da bioeconomia, como também melhorou a circularidade dos recursos energéticos e influenciou as escolhas dos consumidores no que respeita a produtos circulares.

Esta iniciativa promoveu uma cidade mais sustentável e resiliente, reduzindo a pegada de carbono e a produção de resíduos não recicláveis, melhorando a saúde e a qualidade de vida. Incentivou as partes interessadas locais a adotar abordagens de produção circular, atraindo financiamento internacional e reforçando os serviços locais.

 

Principais aprendizagens para as cidades:

 

A adaptação da prática C-City a outras cidades requer uma avaliação dos recursos locais, da demografia, das infraestruturas e da governação para identificar oportunidades circulares. Por exemplo, pode envolver a avaliação da gestão de resíduos, do consumo de energia, dos sistemas de transporte e dos fluxos de recursos, em colaboração com governos, empresas e comunidades.

Evento comunitário em Génova, Itália, sobre a prática C-City. Créditos: Génova.

 

Reutilizar, reparar e repensar a questão dos resíduos: um mercado para a mudança

 

#2 - Munique (DE)

 

loja municipal de segunda mão de Munique, Halle 2, é uma loja de segunda mão gerida pela cidade - tanto física como online, que combina sustentabilidade com impacto social. Localizada num armazém adaptado, colabora com organizações locais sem fins lucrativos, recolhendo artigos deixados pelos cidadãos nos centros de reciclagem. Ao selecionar, reparar e fixar o preço para revenda, dá-lhes uma nova vida.

A iniciativa é uma parte vital das atividades de prevenção de resíduos da Corporação de Gestão de Resíduos de Munique (AWM - Munich Waste Management Corporation). Ajuda a prolongar a vida útil de todos os tipos de produtos, desde bicicletas a aparelhos eletrónicos. Além disso, também melhora o mercado de trabalho local, criando novos postos de trabalho de nível básico.

A Halle 2 gerou uma receita média de 60 000 euros por mês, com cerca de 200 000 artigos vendidos por ano e cerca de 4300 clientes por mês, que gastam em média 13 euros por cliente. Esta iniciativa ajudou a melhorar 12 centros de reciclagem convencionais em Munique, reduzindo mais de 500 toneladas de resíduos por ano desde a sua implementação em 2016, o que significa 2800 toneladas de emissões de CO2 por ano.

 

Principais aprendizagens para as cidades:

 

A prática Halle 2 é escalável e adequada a uma futura transposição, uma vez que os seus elementos-chave podem ser adaptados a diferentes contextos urbanos, ajustando o âmbito, as infraestruturas e as parcerias.

Conceitos fundamentais como a reutilização, a reparação, a redução de resíduos e o envolvimento da comunidade podem ser implementados a escalas mais pequenas, com menos parceiros e/ou uma plataforma online. Do mesmo modo, uma loja física como local de troca de qualquer dimensão ou uma loja pop-up (temporária). Esta abordagem deve basear-se nas infraestruturas existentes, tais como os pontos de recolha de resíduos, e ser apoiada por campanhas municipais de relações públicas e de sensibilização. Por último, mas não menos importante, uma forte cooperação com as ONG locais e um compromisso político permanente são fatores essenciais.

Anúncio da loja de segunda mão Halle 2, gerida pela cidade. Créditos: Munique.

 

#3 - Lucca (IT) 

 

Tornar mais verde e inovar na organização num centro histórico é uma prática que visa ajudar a cidade a atingir padrões mais elevados de eficiência energética e de qualidade do ar urbano, melhorando a qualidade de vida dos residentes.

Para apoiar a distribuição sustentável de mercadorias, o projeto desenvolveu e testou uma ferramenta inovadora que utiliza um sistema baseado em créditos para regular e fixar o preço das entregas de última milha de forma mais flexível. Este sistema é gerido através da Plataforma de Gestão de Créditos Logísticos (Locmap), que está integrada no sistema de controlo de acesso à Zona de Tráfego Restrito (RTZ- Restricted Traffic Zone) de Lucca e foi especificamente concebida para a distribuição urbana de mercadorias.

Em concreto, foram implementadas três soluções tecnológicas diferentes:

- 22 portões de entrada/saída da RTZ com um novo sistema de Identificação por Radiofrequência para controlar o acesso/saída dos operadores na/da RTZ (os operadores receberam uma etiqueta específica com a autorização de entrada);

- 34 parques de estacionamento para cargas e descargas, equipados com sensores inteligentes sem fios sob a superfície da estrada;

- 3 estações de bicicletas de carga com três bicicletas disponíveis para os operadores de transportes.

Os resultados foram analisados através da comparação das condições antes e depois da implementação, demonstrando uma diminuição dos fluxos da logística e uma consequente redução de CO2 no centro histórico.

 

Principais aprendizagens para as cidades:

 

Foi desenvolvido e publicado a metodologia da estratégia de replicação e transferência, incluindo as experiências das cidades parceiras. A estratégia aborda não só “o que” transferir, mas também “como é que” outras cidades e vilas Europeias podem implementar o método do projeto Aspire.

Em suma, uma replicação bem-sucedida requer uma visão partilhada do que é a mobilidade sustentável e uma cidade mais verde entre todas as partes interessadas.

Exemplo de uma estação de bicicletas de carga na RTZ (Restricted Traffic Zone) de Lucca. Créditos: Lucca.

 

O poder da compostagem: transformar os resíduos em ação climática e social

 

#4 – Viana do Castelo (PT)

 

O projeto Viana Abraça está a transformar os resíduos orgânicos num recurso valioso, em vez de os enviar para aterro. Através da recolha seletiva de biorresíduos e da compostagem doméstica, consegue uma elevada eficiência - até 72% ou 96 kg anualmente, por agregado familiar - e canaliza as poupanças para apoiar as Instituições de Solidariedade Social locais do Município.

O projeto proporciona benefícios claros em todo o espetro: reduz os resíduos depositados em aterro e as emissões de gases com efeito de estufa através da conversão de biorresíduos em composto e energia; reduz os custos de gestão de resíduos; reduz a dependência de fertilizantes químicos através da reutilização circular; envolve os cidadãos em práticas sustentáveis e apoia as instituições sociais através do reinvestimento das poupanças de custos.

Nas zonas rurais, foram entregues 8122 compostores domésticos, que trataram, na origem, 2205 toneladas de resíduos biológicos. Mais de 14 000 famílias aderiram ao projeto de separação de biorresíduos nas zonas urbanas. Tendo em conta que, antes do lançamento do projeto em 2017, o município enviou mais de 12 000 toneladas de resíduos biológicos para eliminação em aterro, com um custo associado de 276 000 euros, esta prática já está a fazer a diferença.

 

Principais aprendizagens para as cidades:

 

Esta abordagem é especialmente adaptável, tornando-se não só replicável noutras cidades, mas também noutras áreas do município. Por exemplo, num centro histórico de uma cidade sem recolha seletiva de biorresíduos alimentares, poderia ser implementado um sistema porta-a-porta utilizando veículos mais pequenos.

Ao transferir esta prática, devem ser efetuados ajustamentos para satisfazer as caraterísticas e necessidades únicas de cada cidade ou zona. Os incentivos económicos e os benefícios sociais podem ser os principais motores da participação pública e do sucesso a longo prazo.

Flyer de promoção de uma iniciativa de separação de resíduos. Créditos: Viana do Castelo.

 

O futuro da economia circular nas cidades

 

Em conjunto, as práticas aqui apresentadas ilustram a mudança real resultante da inovação e colaboração locais, para além de modelos replicáveis que podem ser adaptados e transferidos para outras cidades.

Essas práticas demonstram que a economia circular é um caminho criativo, inclusivo e com visão de futuro, que transforma resíduos em oportunidades e comunidades em agentes de mudança.

Explore mais exemplos e inspire-se nas 116 Boas Práticas URBACT que abrangem diversos desafios urbanos, como a ação climática, a eficiência energética, a mobilidade e a inclusão social. Cada prática selecionada foi submetida a uma avaliação rigorosa por um grupo de peritos que avaliaram o seu impacto local, abordagem participativa, integração e potencial de transferência para outras cidades europeias.

Fique atento às próximas Redes de Transferência URBACT e conheça as cidades e vilas Europeias que irão transferir as 116 Boas Práticas URBACT.

Traduzido e adaptado do original em inglês, publicado pelo URBACT a 28/05/2025

Submitted by on 14/07/2025
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Maria José Efigénio

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