Procurar sociedades justas através do voluntariado!

Edited on 09/03/2022

As cidades que enfrentam atualmente necessidades sociais multidimensionais emergentes, tais como cuidados de idosos e crianças, isolamento social e depressão, desemprego e pobreza, para apenas mencionar algumas, precisam de desenvolver políticas inovadoras através da criação de processos coletivos de aprendizagem baseados no intercâmbio e na aprendizagem entre pares. Esta é a mudança de política que a rede Volunteering Cities+ está a desenvolver, apoiada pela metodologia URBACT!

 

 

O voluntariado ajuda a construir uma comunidade mais coesa, segura e forte porque amplia a rede social dentro das comunidades e entre estas. O voluntariado promove a maior atividade das pessoas no empenho cívico e no seu interesse pela cidadania. Os voluntários colaboram largamente na sociedade através de uma contribuição substancial para o desenvolvimento a longo prazo, o intercâmbio cultural, a construção da comunidade, a inclusão social a redução da pobreza, enquanto melhoram as suas qualificações e competências e, consequentemente, a empregabilidade, no caso de jovens voluntários.

O voluntariado é fundamental para alcançar os princípios de Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas, para assegurar que “ninguém fica para trás” e que “se chega aos que estão mais para trás primeiro.” A Agenda 2030 reconhece os papeis vitais que os voluntários desempenham por toda a parte e a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou um Plano de Ação desenvolvido pelos Estados Membros das Nações Unidas para ajudar as partes interessadas voluntárias a promoverem o reconhecimento e a integração do voluntariado nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Através dos esforços concertados dos voluntários, dos governos, da sociedade civil, do setor privado e das Nações Unidas, o Plano de Ação procura fortalecer a adesão das pessoas à Agenda 2030, integrar o voluntariado, torná-lo uma tendência dominante nas estratégias e políticas nacionais e melhor medir o impacto dos voluntários.

Os voluntários podem apoiar extensivamente os mais vulneráveis, enquanto o empenho no voluntariado pode empoderar as pessoas marginalizadas para que tenham soluções para os desafios que enfrentam. Tendo em consideração o envelhecimento da população na Europa, no geral e em particular nos territórios envolvidos na rede Volunteering Cities+ (VC+), as pessoas idosas podem beneficiar do voluntariado, tanto através da participação ativa como beneficiando de serviços.

Para além do mais, o voluntariado dá aos voluntários a oportunidade de praticar e desenvolver aptidões sociais, aspeto especialmente importante para os jovens, ao melhorar as aptidões e competências sociais, hoje consideradas como elemento chave de empregabilidade, e uma plataforma de intercâmbio através do encontro regular com um grupo de pessoas com interesses comuns.

A rede Volunteering Cities+ é uma das sete redes de transferência de “segunda geração”, aprovadas pelo Secretariado URBACT em junho de 2021. Esta rede é liderada pela cidade de Athienou no Chipre, à qual foi atribuído o Selo de Boa Prática URBACT em 2017.

A rede de transferência Volunteering Cities+ pretende promover a transferência e adaptação desta Boa Prática, que consiste em processos de voluntariado estruturados e intergeracionais, para as cidades parceiras, como alavanca para melhorar a inclusão social, para combater a pobreza e para promover melhores níveis de qualidade de vida do cidadãos numa sociedade mais coesa. Para que este “novo” modelo de governança estruturado e participativo possa conceber e implementar a política social municipal, os voluntários desempenham um papel essencial.

No contexto de um programa nacional, a cidade de Athienou estabeleceu um Conselho Municipal de Voluntariado (CMV), presidido pelo Presidente da Câmara, com 48 membros eleitos pela comunidade (organizações locais, partidos políticos, associações de pais, igreja e patrocinadores). O CMV constitui um Conselho chapéu para quatro programas, cada um com o seu Conselho de Voluntários, que apoiam os funcionários do programa nas suas tarefas e responsabilidades. Estes quatro programas são: um lar de idosos, um centro para adultos com iniciativas relacionadas com atividades ocupacionais para pessoas isoladas e atividades de assistência de dia, uma creche municipal e um comité de segurança social. Este último, presidido pelo Presidente da Câmara e com uma colaboração próxima com o Gabinete de Segurança Social e com o Ministério da Educação, é uma espécie de departamento social do município que trabalha com base numa estrutura participativa.

Kyriacos Kareklas, Presidente da Câmara de Athienou, declara que “Apesar de os voluntários tomarem as decisões, o comité funciona sob normas estritas, reporta as suas ações e é auditado pelas autoridades legais. Desde o seu estabelecimento em 2021, uma média de 40 indivíduos é apoiada a todo o momento. O apoio faz-se em colaboração com o restante programa do CMV”

Como um todo, o CMV utiliza uma abordagem bottom up, com as instituições a atingirem a integração horizontal e a integração vertical que permite aos voluntários tomar decisões com a necessária validação.

Um fator chave de sustentabilidade destas iniciativas é o elemento intergeracional, juntando iniciativas de diferentes grupos etários da comunidade. As crianças começam muito cedo a participar em atividades de voluntariado, sendo simultaneamente beneficiárias de atividades de voluntariado, o que promove uma cultura de continuidade de geração em geração. Como exemplo podemos mencionar as visitas semanais regulares das crianças aos lares de idosos para terem algumas atividades de entretenimento em conjunto com os idosos. Outro exemplo são as visitas frequentes que os voluntários fazem às escolas com iniciativas de narração de histórias para encorajar o envolvimento das crianças e dos jovens no voluntariado.

Para além do mais, existe um elemento adicional baseado no forte envolvimento do setor privado através da componente de responsabilidade social corporativa das principais associações de empregadores da região. Este apoio extraordinário disponibilizado pelo setor privado à segurança social da região tem as suas razões. Em primeiro lugar, é necessário mencionar que o tecido económico da zona se baseia essencialmente na agricultura, na criação de gado e noutras indústrias relacionadas. Por exemplo, esta associação fornece ao lar de idosos 30 litros de leite por dia a 20 quilos de carne por semana sem custos. Estes setores são essencialmente de cariz familiar, com forte sucessão intergeracional nos negócios. Esta sucessão alimenta a continuação da cultura de coesão e do princípio de solidariedade existentes na sociedade.

Kyriacos Kareklas também diz que “a Boa Prática de Athienou foi gerada na cidade ao longo de vários anos. O seu ponto forte é a colaboração intergeracional, na qual diferentes grupos etários de voluntários e de indivíduos com problemas sociais trabalham em conjunto para uma evolução sustentável da qualidade de vida na sociedade local”.

A “primeira vaga” de redes de transferência envolveu sete cidades parceiras com uma alargada distribuição em território europeu, de modo a facilitar uma testagem mais abrangente das abordagens necessárias em diferentes contextos e modelos de governação: Capizzi em Itália (Sicília), Athy na Irlanda (Kildare County), Radlin na Polónia, Altena na Alemanha, Altea em Espanha, Arcos de Valdevez em Portugal e Pregrada na Croácia. Os resultados foram extremamente positivos, iniciando o desejo de transferir o modelo a outras cidades. Praticamente todas as sete cidades criaram ou adaptaram o CMV como um novo instrumento de governança participativa com a colaboração dos voluntários, multiplicaram as suas atividades intergeracionais, fomentaram números mais elevados de voluntários, incluindo jovens, e designaram um plano de ODS para envolver as empresas. Além disso, o diagrama abaixo mostra como os membros do Grupo Local URBACT (ULG - URBACT Local Group) viram as suas competências melhorarem em cada área, também com um reforço significativo das soft skills.

A rede de “segunda vaga” Volunteering Cities+ tem quatro novas cidades parceiras:

Como sempre, o maior desafio para a rede de transferência é atingir uma plataforma comum de entendimento para identificar os módulos prioritários e as metodologias para a transferência mais adequados a cada uma das cidades parceiras, tendo em linha de conta o vasto leque de características, contextos de governança e pequena dimensão de todas as cidades envolvidas, cuja população varia entre 6 000 e 11 000 habitantes.

Para fazer face aos desafios acima mencionados, é fundamental criar as condições para o envolvimento das partes interessadas, de acordo com a massa crítica relacionada com a dimensão das cidades, e promover o seu empoderamento e capacidade para participarem no processo de transferência dos Módulos de Boa Prática. Para fazer isto, cada cidade estabeleceu um ULG, veículo necessário para promover abordagens integradas e participativas às áreas temáticas da inclusão social e da governança, no quadro das políticas urbanas, e para a elaboração do Plano de Ação de Transferência.

O ‘coração’ na jornada da transferência é o ULG. O ULG e a reflexão e trabalho comuns permitiram alcançar melhoramentos relativamente à qualidade da comunicação e cooperação mútuas entre diferentes partes interessadas, que são essenciais para o desenvolvimento social da cidade. 

Marija, cidade de Pregrada

O espírito do voluntariado promove um forte sentido de solidariedade e coesão num grupo e, como consequência, um sentido de pertença a um contexto comunitário funcional. A Rede de Transferência oferece uma integração horizontal bem definida ao nível das cidades e dos seus habitantes, bem como uma integração vertical do voluntariado dentro da estrutura de governação.

Para terminar, gostaríamos de salientar que o Sr. Kareklas declarou:

As redes de Transferência URBACT são um grande desafio para a promoção da transferência de boas práticas noutras cidades. Estamos conscientes de que a transferência não é um processo fácil, mas estamos confiantes que a nossa experiência anterior bem-sucedida, a ajuda da Perita Líder e a nossa vontade de a concretizar irão permitir que façamos de novo um bom trabalho.

 

Autoria: Maria Rauch, Perita Líder

Submetido por s.georgiou a 17 de novembro de 2021

 

 

Submitted by Maria João Matos on 09/03/2022
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Maria João Matos

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