Cinco Boas Práticas URBACT para repensar a educação nas cidades

Edited on 04/09/2025

Lublin (PL) - Entrepreneurial Kids

Desde as salas de aula até à aprendizagem ao longo da vida, a educação sempre desencadeou transformações. Nas cidades de hoje, desempenha um papel crucial na formação de comunidades resilientes. Explore como cinco Boas Práticas URBACT estão a liderar este caminho.

Com o fim do verão, a cidade prepara-se para o regresso dos alunos à escola. Desde as salas de aula da primeira infância até aos centros de ensino para adultos, a educação molda não só o futuro dos indivíduos, mas também a resiliência e a sustentabilidade das comunidades urbanas.

A União Europeia reforçou recentemente a importância da educação para alcançar sociedades sustentáveis e inclusivas. A Agenda de Competências para a Europa (atualizada em 2023-2024) e o Plano de Ação para a Educação Digital 2021-2027 colocam a tónica na aprendizagem ao longo da vida, na inclusão e nas competências digitais, promovendo simultaneamente a equidade e a coesão social nas áreas urbanas. Estas políticas fornecem um quadro para as cidades inovarem nas abordagens educativas e alinharem as iniciativas locais com objetivos europeus mais amplos.

Entre as 116 Boas Práticas premiadas pelo URBACT em 2024, cinco estão centradas na transformação da educação em meio urbano para responder a estes desafios: Educação para o Desenvolvimento Sustentável em Munique (DE), a Escola Novas Oportunidades em Viladecans (ES), Capacitação para Nacionais de Países Terceiros no Fundão (PT), +Dones³ em Esplugues de Llobregat (ES) e Crianças Empreendedoras em Lublin (PL).

Continue a ler para descobrir como as instituições educativas podem tornar-se poderosos motores de um desenvolvimento urbano sustentável, equitativo e resiliente.

 

#1 - Munique (DE) 

 

Entre 2019 e 2022, Munique (DE) trabalhou num processo participativo com cerca de 150 representantes da administração local, universidades, sociedade civil e escolas para conceber um roteiro à escala da cidade para incorporar a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) na aprendizagem quotidiana. O resultado deste processo participativo foi a BNE VISION 2030, um plano de ação com cerca de 350 medidas, aprovado pela Câmara Municipal em 2022 e destinado a orientar a implementação até 2030. A BNE VISION 2030 também faz parte da “Orientação para a Educação”, que é uma componente essencial do conceito estratégico de desenvolvimento urbano “Perspetiva Munique”. 

A EDS é uma abordagem holística da aprendizagem que capacita as pessoas a fazerem escolhas conscientes e a tomarem medidas responsáveis para salvaguardar o ambiente, fomentar economias sustentáveis e promover a justiça social. Munique apoia a EDS através da nomeação de uma equipa de consultores, do financiamento de professores e recursos de EDS em cerca de 120 escolas e da organização de eventos públicos para promover a cooperação entre as autoridades, os educadores e a sociedade civil. Até à data, a EDS melhorou o trabalho em rede entre os diferentes atores educativos em Munique e reforçou a cooperação de confiança entre a administração e a sociedade civil.

Ao integrar a EDS em todas as fases da educação - desde os primeiros anos até à aprendizagem ao longo da vida - Munique alinha os seus esforços com a agenda global da UNESCO “EDS para 2030”. Em 2016, o Presidente da Câmara, Dieter Reiter, assinou a resolução da Associação Alemã de Cidades relativa à Agenda 2030 da ONU, comprometendo Munique a implementar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A cidade tem também como objetivo tornar-se neutra em carbono até 2035.

People engaged in an educational activity together

 

Aprendizagens para a sua cidade:

O caso de Munique demonstra que uma abordagem participativa e de longo prazo pode ajudar as cidades a integrar com sucesso a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) nos seus sistemas educativos, transformando as escolas em motores de transições urbanas sustentáveis. Além disso, envolver desde cedo uma ampla variedade de partes interessadas e integrar a EDS em todos os níveis de ensino garante tanto apoio político como uma apropriação alargada, aumentando as hipóteses de uma implementação eficaz e duradoura.

 

#2 - Viladecans (ES)

 

A Escola de Novas Oportunidades, conhecida como ENO, em Viladecans, foi criada em 2020 como parte do plano de recuperação da cidade face à COVID-19, com o objetivo de combater o aumento do desemprego jovem e do abandono escolar precoce.

Recorrendo a uma metodologia de 360º, a ENO identifica jovens em risco de exclusão e oferece-lhes orientação personalizada, percursos formativos flexíveis e apoio contínuo para os reintegrar no ensino ou no mercado de trabalho. O modelo coloca os jovens no centro e envolve uma vasta rede de departamentos municipais, escolas, empresas e organizações sociais.

A ENO também se articula com objetivos mais amplos de desenvolvimento urbano, abordando dimensões económicas, sociais e ambientais. As empresas locais contribuem para a formação e mentoria, as entidades sociais asseguram equidade e inclusão, e um projeto específico de Empregos Verdes prepara os jovens para carreiras na economia sustentável. Desde o seu lançamento, mais de 180 jovens participaram, com mais de 93% a conseguirem integrar-se no ensino, em formação ou no mercado de trabalho.

 

Aprendizagens para a sua cidade:

A ENO demonstra como um modelo holístico, à escala de toda a cidade, pode reduzir eficazmente o abandono escolar e o desemprego jovem. Ao combinar apoio personalizado aos indivíduos com uma forte colaboração intersetorial, a iniciativa cria oportunidades duradouras para jovens em situação de vulnerabilidade. A abordagem é adaptável a outras cidades, desde que exista apoio político, envolvimento das partes interessadas e uma aposta em percursos personalizados, em vez de soluções idênticas para todos.

 

#3 - Fundão (PT)

 

O município do Fundão (PT) desenvolveu o programa Capacitação para Nacionais de Países Terceiros com o objetivo de atrair, integrar e reter nacionais de países terceiros (NPT), associando formação certificada de curta duração às competências mais procuradas pelos empregadores locais.

Resultante do Plano Municipal para a Integração de Migrantes (MIXin), a iniciativa combinou análise de dados, contributos de empregadores e participação de migrantes para conceber módulos de formação em áreas como agricultura, gestão de solos e produção de queijo. Ao longo de 10 ações de formação, foram atribuídos 216 certificados e cerca de 50 NPT conseguiram emprego diretamente relacionado com estas novas qualificações.

A prática não só ajuda os migrantes a encontrar trabalho e a integrar-se na comunidade, como também responde aos desafios regionais de despovoamento e escassez de mão de obra. Ao oferecer formação alinhada com as necessidades locais, a iniciativa contribui para a sustentabilidade económica, inclusão social e equilíbrio territorial. Apesar dos constrangimentos causados pela pandemia de COVID-19, a abordagem revelou-se eficaz no reforço da força de trabalho e da comunidade local.

A group of people in a professional or educational setting, engaged in the hands-on preparation of a dairy product

 

Aprendizagens para a sua cidade:

O Fundão demonstra como a formação direcionada de competências para migrantes, concebida em parceria com empregadores e baseada nas necessidades socioeconómicas locais, pode simultaneamente apoiar a integração, impulsionar as economias regionais e combater o despovoamento. Para outras cidades, a lição é alinhar as estratégias de integração de migrantes com as exigências do mercado de trabalho, garantindo que a formação seja curta, flexível, certificada e diretamente ligada a oportunidades de emprego.

 

#4 - Esplugues de Llobregat (ES)

 

O projeto +Dones³, em Esplugues de Llobregat (ES), tem como objetivo reduzir a disparidade de género nas áreas STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), inspirando raparigas e apoiando mulheres na aquisição de competências digitais e no acesso a carreiras científicas e tecnológicas. A iniciativa combina palestras de sensibilização, oficinas com modelos femininos de referência e programas especializados que permitem às participantes explorar os domínios STEAM num ambiente acolhedor e sensível às questões de género.

Estruturado em torno de quatro linhas de ação – formação STEAM, palestras de sensibilização, atividades de comunicação e transferibilidade/reconhecimento – o projeto abrange crianças, adolescentes e mulheres em idade adulta. Além disso, a colaboração entre os departamentos da Câmara Municipal, escolas, profissionais STEAM e entidades regionais garante que as atividades sejam adaptadas às necessidades locais. Desde o seu lançamento, o +Dones³ já envolveu quase 3.000 participantes, formou mais de 200 raparigas em competências STEAM e capacitou mais de 50 mulheres em programas de transformação digital, alcançando níveis elevados de satisfação em todas as atividades.

 

Aprendizagens para a sua cidade:

O +Dones³ demonstra como uma educação STEAM integrada e sensível às questões de género pode contribuir para enfrentar desigualdades estruturais na educação e no emprego. As cidades que pretendam replicar esta prática devem combinar diagnósticos sobre as disparidades de género locais, um design participativo com as partes interessadas e oficinas práticas focadas em competências.

Ao associar formação com empoderamento e visibilidade de modelos de referência, esta abordagem pode aumentar o interesse das raparigas pelas áreas STEAM, reforçar as competências digitais das mulheres e apoiar objetivos mais amplos de igualdade de género, educação de qualidade e inclusão social.

 

#5 – Lublin (PL)

 

O projeto Crianças Empreendedoras foi lançado em Lublin (PL) para apresentar aos alunos do primeiro ciclo do ensino básico as noções básicas de empreendedorismo através de workshops práticos e atividades interativas. O projeto é um esforço de colaboração entre a cidade de Lublin, a Universidade Maria Curie-Skłodowska (UMCS) e o Banco Nacional da Polónia. Graças a este projeto, as crianças podem participar em cenários empresariais do mundo real, desenvolvendo o pensamento crítico, o trabalho em equipa e as competências de resolução de problemas. Com o apoio de professores e profissionais de empresas locais, desenvolvem pequenos projetos que vão desde a conceção de produtos à literacia financeira.

Desde 2018, o programa envolveu mais de 2 100 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos, 1 000 professores e 50 empresas. Ao integrar o empreendedorismo no ensino pré-escolar, o programa deu o exemplo a outras cidades que pretendem preparar as gerações mais jovens para ambientes urbanos em rápida mudança, de uma forma prática e cativante. A iniciativa também promoveu uma maior cooperação entre escolas e empresas, sensibilizou para a educação empresarial, melhorou o conhecimento sobre a economia local entre as crianças, os pais e os professores e motivou os professores a desenvolverem as suas competências empresariais. Com vista no futuro, o programa planeia expandir-se para chegar a mais crianças, incorporar módulos de empreendedorismo digital e melhorar as atividades de acompanhamento para controlar o seu impacto a longo prazo.

Lublin (PL) - Entrepreneurial Kids

 

Aprendizagens para a sua cidade:

O caso de Lublin demonstra como as cidades podem repensar a educação, combinando a escolaridade formal com oportunidades de aprendizagem informal. A integração do empreendedorismo no currículo, ao mesmo tempo que cria espaços de intercâmbio entre pares, confere aos jovens competências para toda a vida, fomentando a curiosidade, a inovação e a resiliência desde tenra idade.

 

Educação para a sustentabilidade urbana

 

Coletivamente, estas cinco Boas Práticas URBACT mostram como a educação pode ser aproveitada como uma ferramenta política para a inclusão, sustentabilidade e igualdade. Lembram-nos que construir cidades melhores não tem apenas a ver com infraestruturas, mas também com pessoas que aprendem, se ligam e moldam o futuro em conjunto.

Quer continuar a aprender sobre outros temas urbanos? Explore todas as 116 Boas Práticas URBACT premiadas em 2024.

Por último, mas não menos importante, em outubro de 2025, o URBACT irá lançar as novas Redes de Transferência, onde muitas destas práticas serão partilhadas e adaptadas por outras cidades em toda a Europa. 

Tem interesse em juntar-se a uma rede URBACT sobre educação? Fique atento ao próximo concurso para redes URBACT a ser lançado em março de 2026!

 

Traduzido do original em Inglês, submetido a 03/09/2025 

Submitted by on 04/09/2025
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Maria João Matos

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