Transição digital nas cidades – como pode beneficiar os cidadãos?

Edited on 05/04/2023

Women using her phone to take a picture at the Tallinn URBACT City Festival

Faça uma viagem ao passado connosco. Redescubra histórias e reflexões que recolhemos nos últimos anos. Este artigo foi publicado pela primeira vez em 2019. No entanto, é mais relevante do que nunca, uma vez que a transição digital está no centro dos objetivos da política de coesão da UE e do Programa URBACT.

A digitalização está omnipresente na vida social e urbana atual, e as cidades URBACT estão a tirar partido desta oportunidade. Como Alison Partridge, especialista líder das redes de transferência TechRevolution 2.0 e TechRevolution afirma, as cidades têm de se “adaptar ou morrer”: “cidades de todas as dimensões têm de compreender melhor as oportunidades oferecidas pelo digital e pela tecnologia e aproveitá-las para criar empregos de maior valor e start-ups para a população local. De facto, em todos os níveis da sociedade e da governação, os serviços e produtos estão a tornar-se digitais: disponibilidade online, ferramentas digitais de acesso, compilação e utilização de dados para proceder à meta-análise.

A transição para uma sociedade baseada em vetores “virtuais”, intangíveis, utilizando técnicas e algoritmos informáticos – uma transição digital – está a crescer nas cidades Europeias, o que significa mais intrusões no nosso dia a dia.

“A utilização de novas tecnologias para comunicar e aceder à informação está a mudar a forma como a sociedade funciona.”

É o que declara o Plano de Ação da Parceria para a Agenda Urbana de Transição Digital  porque “os cidadãos vivem uma vida cada vez mais digital, tanto na esfera pública quanto na privada”

Além da questão da divisão digital, da proteção de dados privados e da livre escolha, esta tendência segue novos padrões de consumo e produção, bem como de interação entre as pessoas.

Tirar partido do potencial da transição digital é uma mais-valia para as cidades, não só para o desenvolvimento empresarial e a criação de emprego, mas também para a governação das cidades e para a aproximação aos cidadãos, desenvolvendo assim abordagens de governação mais integradas a nível da cidade. Foi desta forma que as cidades URBACT abordaram a respetiva transição digital nos últimos 15 anos – como um meio de promover a mudança nas cidades. Este artigo, escrito por Marcelline Bonneau, Perita URBACT, apresenta alguns casos de cidades URBACT e Parcerias da Agenda Urbana, que podem inspirar outras cidades.

 

A transição digital como objetivo: transformar o desenvolvimento económico local das cidades

As cidades estão a tirar partido da transição digital como um objetivo em si mesmo. De facto, o setor digital tem sido e deve ser desenvolvido. A criação de “cidades inteligentes” está agora a surgir cada vez mais na estratégia das cidades como uma forma de alcançar uma vantagem competitiva. A ênfase no desenvolvimento económico local, como uma nova forma de abordar questões societais emergentes, tais como ambientais e sociais, requer uma forte liderança, compromisso e investimentos.

Para algumas Redes URBACT, a digitalização das cidades implica o desenvolvimento de incubadoras, hubs e outras plataformas para apoiar o desenvolvimento de empregos e competências. Apresentando uma variedade de exemplos sobre a forma como as cidades apoiam a tecnologia e a economia digital, o TechPlace destaca as Redes URBACT, entre as quais a TechTown, a GEN Y CITY e as Interactive Cities. Partilha conteúdos, tais como artigos, vídeos, podcasts e apresentações sobre a forma como as cidades utilizam as redes sociais, as estratégias digitais, a educação digital, a saúde digital, os ambientes de trabalho conjunto, os centros digitais etc.

O desenvolvimento de estratégias digitais é o ponto de partida da rede DigiPlace, uma das 23 Redes de Planeamento de Ação aprovadas em 2019. Procura apoiar a criação de uma visão global e melhorar as capacidades técnicas e de engenharia, incorporando a inovação digital, com infraestruturas materiais e imateriais. O apoio ao crescimento digital e às economias transformativas também é a ênfase principal da rede TechRevolution 2.0. É o caso da transferência da experiência de Barnsley (Reino Unido) e do respetivo Digital Media Centre, um programa de apoio às empresas que alimenta um “ecossistema” graças a empregos e negócios baseados no conhecimento em todos os setores e indústrias.

Quanto às competências necessárias para avançar para cidades mais digitais, o programa URBACT contribuiu também para a plataforma Digital Skills Map, como resultado da Parceria da Agenda Urbana em matéria de Emprego e Competências, apresentando conhecimentos locais sobre a digitalização no ensino e formação profissionais.

 

A transição digital como metodologia: Ênfase na governação

A digitalização pode, por outro lado, ser vista como uma metodologia. O processo, apoiando a transição social e urbana, tem um forte impacto na governação e na forma como o nosso dia a dia está organizado – bem como na forma como fazemos a cidade funcionar.

Embora a utilização da tecnologia possa levar à personalização dos serviços, “reforçando a barreira entre as pessoas e os serviços que os respetivos impostos financiam”, tal como apontado pelo Perito URBACT, Eddy Adams, na sequência da contribuição do city lab URBACT para a Carta de Leipzig, é fundamental utilizar uma linguagem adequada que não afaste as pessoas. De facto, as administrações e os cidadãos precisam de se conhecer e adotar uma linguagem que seja compreensível pelos os dois lados. Quando utilizadas corretamente, a digitalização e as novas tecnologias podem ser potenciadas para transformar as cidades em plataformas de inovação aberta e desenvolver o urbanismo digital. O documento de trabalho do programa ESPON (Rede Europeia de Observação para o Desenvolvimento Territorial e Coesão), sobre a “Inovação digital em ambientes urbanos: Soluções para cidades sustentáveis e fluentes” apoia o benefício da cocriação vertical e horizontal das cidades.

A transição digital pode ser apoiada por ferramentas específicas para tornar a governação mais inclusiva, participativa e mais eficiente. Segundo o ESPON, as cidades maiores e as cidades do Norte da Europa são mais avançadas do que as restantes cidades Europeias.

Este processo, de acordo com a Parceria da Agenda Urbana para a Transição Digital, pode ser apoiado por quatro diferentes enquadramentos: tecnológico, organizacional, institucional e pelas partes interessadas (ver figura). Na verdade, o que é de crucial importância para as cidades não é a tecnologia utilizada, mas sim o modo como é utilizada.

tabela
Nele Leosk, 2019, DIGITAL TRANSITION ABC

cardCriar um balcão único para os cidadãos e garantir a centralização da informação dos cidadãos é a prioridade da rede URBACT Card4All, que transfere a experiência do Sistema de Cartões de Cidadão de Gijon (ES). O cartão permite recorrer a serviços e tecnologias inovadoras. As cidades podem assim recolher informação para melhorar os respetivos serviços e utilizá-la no âmbito de um processo participativo. Isto pode ser aplicado para promover a inclusão social, o comércio local, a mobilidade urbana e a vida sustentável, criando uma Cidade Inteligente com Cidadãos Inteligentes. Este cartão pode ser utilizado para o acesso aos terminais dos cidadãos (para serviços públicos), transportes públicos, bibliotecas, piscinas, WC públicos, partilha de carros etc. A rede IoTxChange também procura beneficiar das soluções da Internet das Coisas (IoT) para melhorar a qualidade de vida nas pequenas e médias cidades da UE.

Ao mesmo tempo, a participação e o envolvimento dos cidadãos também conta, cada vez mais, com ferramentas digitais. O orçamento participativo de Paris, ao qual foi atribuído o selo de Boa Prática URBACT, é um processo online que combina a promoção offline e online. A cidade de Agen (FR) iniciou uma nova rede, a AtiveCitizen, colocando os cidadãos no centro da democracia local em cidades de pequena e média dimensão, desenvolvendo novas plataformas interativas, como a Tell My City de Agen.

Muitas outras cidades URBACT desenvolveram soluções digitais a uma escala mais ampla. Por exemplo, Helsínquia (FI), dentro da rede REFILL, partilhou a experiência com um serviço online, o Flexi Spaces, permitindo às pessoas encontrar e reservar espaços à hora no bairro de Kalasatama. É seguro dizer que o URBACT traz uma riqueza de conhecimentos e casos práticos para o debate da Política Urbana Europeia – ajudando a desenvolver e a partilhar novas soluções inovadoras, criando cidades inteligentes.

 

Tem interesse no tópico da transição digital, mas não sabe por onde começar?

Junte-se a nós num webinar a 9 de março de 2023, das 9h às 10h30 (horário de Lisboa), para compreender como a tecnologia pode ser uma mais-valia na sua cidade e como podemos ajudar na sua futura jornada de planeamento de ações

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Artigo da autoria de Marcelline Bonneau, submetido a 08/02/2023

 

 

Submitted by Maria João Matos on 01/03/2023
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Maria João Matos

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