Seguir em frente: pequenas ações de mobilidade sustentável, grande impacto

Edited on 26/09/2025

Projeto SCHOOLSHOODS na Escola Primária Krásného, em BRNO, onde, em conjunto com a escola, foram concebidos jogos e desenhos para os passeios, pintados a tempo do novo ano letivo de 2025 (Foto: SCHOOLSHOODS).

Projeto SCHOOLSHOODS na Escola Primária Krásného, em BRNO, onde, em conjunto com a escola, foram concebidos jogos e desenhos para os passeios, pintados a tempo do novo ano letivo de 2025 (Foto: SCHOOLSHOODS).

O que torna uma cidade verdadeiramente transitável a pé, de bicicleta ou de baixas emissões? Embora os resultados sejam animadores, a implementação de projetos de mobilidade ativa inclusivos pode parecer uma tarefa assustadora. Muitas vezes, a perceção nas organizações municipais é que a mudança só pode ser alcançada com grandes e dispendiosas ações, em oposição a intervenções menores.

As cidades e regiões europeias estão a tornar-se criativas – e personalizadas – quando se trata de inspirar novas rotinas de mobilidade e torná-las duradouras. Os exemplos seguintes, provenientes das cidades e redes URBACT, mostram o poder de começar com pequenas ações de mobilidade suave para inspirar mudanças de comportamento duradoras e com impacto positivo.

 

Mudar os hábitos de mobilidade através da educação

 

Muitas cidades reconhecem a importância de incutir hábitos de caminhadas e ciclismo desde cedo, mas para aquelas que não têm programas em vigor, por onde começar? Em Ferrara (Itália) e Škofja Loka (Eslovénia), um programa de incentivos através da Rede de Planeamento de Ação S.M.ALL está a envolver as comunidades escolares para tornar a viagem para a escola divertida para as crianças e famílias. Muitas vezes, este tipo de projetos só precisa de um líder local na escola, talvez um pai ou professor, para dar início às atividades.

A ação individual, embora empoderadora, tem um alcance limitado. Brno (República Checa), uma das oito cidades parceiras envolvidas na Rede de Planeamento de Ação SCHOOLHOODS, está a trabalhar diretamente com crianças e famílias para desenvolver intervenções que tornem as deslocações para  a escola, a pé e de bicicleta, mais atraentes, seguras e divertidas. «Estas intervenções ajudam a tornar o ambiente escolar mais acolhedor, onde as crianças podem brincar com os amigos e manter-se ativas antes e depois das aulas», explica Claus Köllinger, Perito Líder do URBACT da SCHOOLHOODS. É importante referir que a utilização de uma solução «criada pelas crianças de Brno» também gera orgulho e sentido de pertença a nível local.

Para um planeamento a mais longo prazo, a Bright Mobility Management (Gscheid Mobil) – uma Boa Prática URBACT – lançou uma série de projetos em Munique (Alemanha) com o objetivo de informar, educar e incentivar novos comportamentos para o trajeto até à escola. O seu projeto WALKING BUS cria trajetos seguros, orientados para grupos e acompanhados até à escola, que são frequentemente fáceis de organizar e implementar pela comunidade escolar. Da mesma forma, os projetos ON THE BIKES – READY – GO e SCHOOL RALLY estão a desenvolver as competências necessárias para que as crianças mais velhas possam andar de bicicleta em segurança antes de entrarem no ensino secundário.

 

Incentivar bons hábitos

 

A maioria das pessoas não muda os seus comportamentos de mobilidade simplesmente porque é a coisa certa a fazer. Os programas de incentivo ajudam a fazer com que as ações sejam recompensadas, incentivando assim as pessoas a continuar a desenvolver bons hábitos. Mas como podem as cidades saber qual é a melhor abordagem para os seus residentes?

A Rede de Planeamento de Ação PUMA está a utilizar a colaboração transnacional e a troca de conhecimentos para incentivar as cidades a aproveitar e aprender com o sucesso das outras. Alguns exemplos dessas trocas em rede incluem Larissa (Grécia), que implementou um sistema de partilha de bicicletas elétricas, e Zagreb (Hungria), onde as ruas estão a ser redesenhadas para dar prioridade aos peões e ciclistas.

«Estas trocas refletem o espírito central da rede: aprendizagem entre pares, teste de ideias e construção conjunta de um futuro urbano melhor», explica Karolina Orcholska, Perita Líder do URBACT da PUMA. «Embora os sistemas de transporte variem, o objetivo continua a ser comum: cidades onde a mobilidade sustentável não é apenas disponível, mas preferida.»

 

A rede PUMA usa exemplos de outras cidades para inspirar mudanças, partilhando ativamente histórias com a rede que mostram o que é possível fazer. (Foto: URBACT).

 

Recompensas mais tangíveis também são incentivos interessantes para experimentar algo novo. Em Faenza (Itália), a aplicação Bike to Work recompensa os utilizadores por registarem os quilómetros percorridos (0,20 EUR por quilómetro, até 50 EUR por mês). Em Hannut (Bélgica), a aplicação Ride to Buy recompensa os utilizadores com 10 EUR por cada 100 km percorridos de bicicleta.

A primeira inspirou 1 235 pessoas a pedalarem nas suas bicicletas, realizando 188 357 viagens, poupando 86 837 kg de CO2 e promovendo colaborações entre empresas, escolas e autoridades locais. A aplicação desenvolvida localmente por Hannut é motivo de orgulho para a comunidade, com 670 utilizadores ativos a pedalar mais de 112 000 km, e a iniciativa apoia o desenvolvimento de 70 km de ciclovias seguras na cidade e arredores, ajudando mais pessoas a perceber que andar de bicicleta pode ser uma opção de transporte segura e agradável.

Vale a pena notar que Faenza e Hannut são duas das 116 Boas Práticas URBACT recentemente selecionadas em 2024. Elas estão entre um punhado de práticas que testam soluções de mobilidade sustentável.

 

Encontrar as pessoas onde elas estão

 

Os programas de caminhada e ciclismo são ótimas formas de inspirar ações de mobilidade ativa e sustentável, mas nem sempre são a escolha mais realista para pessoas com mobilidade reduzida ou que vivem em comunidades pequenas e rurais. Este é um desafio que muitas cidades e regiões menores estão a procurar formas de resolver. No Município de West Mani (Grécia), a ferramentaJornal do Amanhã está a capacitar os alunos do ensino básico local para partilharem a sua visão e novas perspetivas para um futuro mais sustentável, influenciando o debate público. Uma ação relativamente pequena que muitas cidades e regiões poderiam implementar e que dá voz às crianças no desenvolvimento do seu futuro. West Mani é um dos nove municípios envolvidos na Rede de Planeamento de Ações ECONNECTING, que defende soluções de mobilidade regional dentro do «território de 30 minutos».

 

As crianças de West Muni partilham a sua visão do futuro com adultos em workshops públicos (Foto: URBACT)

 

A rede URBACT Beyond the Urban Action Planning Network centra-se na conectividade urbano-rural utilizando ferramentas digitais. Ao partilhar exemplos de base com outras cidades Europeias, como o banco para partilha de boleias em Grafing (Alemanha), a rede apoia soluções de pequena escala com grande impacto para as pessoas que não podem conduzir. Os residentes que precisam de boleia simplesmente levantam um cartaz com o destino para onde desejam viajar e um membro da comunidade pode oferecer-lhes uma boleia, transformando viagens individuais numa opção de transporte comunitário que fortalece as ligações e o orgulho.

 

O SIT FLEXI, outra Boa Prática recentemente premiada pelo URBACT, segue uma abordagem top-down para um princípio semelhante, trabalhando com táxis locais e serviços de transporte privado para preencher uma lacuna na rede de transportes públicos para os residentes rurais da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (Portugal). O programa regista 446 reservas por mês, servindo 630 locais através de uma parceria com 130 taxistas, e tem sido valioso na redução do isolamento social e na garantia de viagens seguras.

 

Palmela, o VAM (Veículo de Atendimento Municipal) em Portugal está a prestar serviços públicos essenciais às comunidades rurais. (Foto: URBACT)

 

Quer manter os cidadãos envolvidos no acesso aos serviços públicos? O Veículo Municipal de Assistência, uma Boa Prática URBACT de Palmela (Portugal), disponibiliza 32 «paragens de autocarro» para comunidades mais remotas. Tal como em Coimbra, esta prática ajuda a reduzir os custos operacionais, com um impacto positivo líquido para as comunidades através da ligação social e do bem-estar.

 

O desafio de medir o impacto qualitativo

 

Os exemplos das cidades, o impacto das suas histórias e o trabalho em curso refletem uma mudança positiva no planeamento da mobilidade urbana, com foco em mudanças duradouras, sustentáveis e inclusivas. No entanto, medir as mudanças no comportamento de mobilidade é um processo demorado que apresenta os seus próprios desafios. Como os resultados desse impacto serão de longo prazo, é necessário medir e adaptar constantemente. Mencionado acima, o programa Bright Mobility de Munique é a prova de como uma cidade pode beneficiar do acompanhamento dos resultados em projetos de curto prazo. A recolha de dados requer observação subjetiva e baseia-se na avaliação qualitativa da sensação de maior segurança, acesso e consciencialização.

 

Conclusão: transformar inspiração em mobilidade ativa

 

Muitas cidades e regiões enfrentam desafios semelhantes para reduzir as emissões, incentivar a atividade física e melhorar o acesso a alternativas de mobilidade para os residentes para quem conduzir não é uma opção. Observando os exemplos acima, para mudar o comportamento na mobilidade não é necessário envolver investimentos avultados ou mudanças nas infraestruturas.

Muitas vezes, é possível obter um grande impacto disponibilizando as ferramentas certas, no lugar certo e na hora certa:

 

A educação e o envolvimento com crianças e famílias promovem uma cidadania mais ativa fisicamente e mais empenhada. 

• Especialmente para comunidades pequenas e rurais, o transporte partilhado/a pedido, organizado pela comunidade é uma alternativa de baixo custo e baixo carbono para pessoas que não podem contar com o transporte público, mantendo-as ligadas aos serviços essenciais. 

• Os incentivos, oferecidos em parceria com empresas locais e aproveitando os programadores de aplicativos locais, recompensam os cidadãos com gratificação a curto prazo, apoiando mudanças de mentalidade a longo prazo.

 

Quer mais estratégias URBACT, resultados de redes, boas práticas e opiniões de especialistas sobre abordagens e políticas de mobilidade urbana? 

Junte-se a nós em Hamburgo (Alemanha) nos dias 28 e 29 de outubro para o próximo EU City Lab sobre Mobilidade Ativa.

 

Percorra o Knowledge Hub do URBACT sobre Mobilidade.

 

Traduzido do original da autoria de Melissa Bruntlett, Perita Ad Hoc, Diretora da Modacity Creative, submetido em 19/09/2025.

Submitted by on 26/09/2025
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Maria José Efigénio

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